quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Porque Jesus não anda com os fariseus

Lucas, no capítulo 15 de seu livro, registra um diálogo entre Jesus e os fariseus, que reclamavam do fato de Jesus receber e comer com publicanos.
A queixa deles fazia sentido: os publicanos eram gente que havia traído Israel e se tornado cobrador de impostos para os romanos. Eram como os que, na segunda guerra mundial, colaboraram com os nazistas que haviam invadido o seu próprio país.
Para os fariseus, o que faria sentido seria Jesus andar com eles, afinal, entre eles e Jesus, havia mais concordância doutrinária do que entre Jesus e qualquer outro partido judaico.
Jesus respondeu-lhes contando três parábolas: a ovelha perdida, a moeda perdida e o filho perdido.
Parábola é uma “estória” com fundo moral, para destacar um ensino.
Nessas três parábolas Jesus explica aos fariseus porque não andava com eles.
Na parábola da ovelha perdida, Jesus pergunta: Que pastor, tendo cem ovelhas, ao perder uma, não deixa no DESERTO as noventa e nove e sai à procura da perdida, e, quando a encontra, vai direto para casa para festejar com os amigos?
A resposta para essa pergunta é: nenhum pastor faria isso, pois perderia as noventa e nove, e tudo o que teria seria a ovelha perdida, se a encontrasse. A menos que estivesse abandonando as noventa e nove.
Era isso que Jesus estava a fazer, abandonando as noventa e nove. As noventa e nove ovelhas representavam os fariseus.
Jesus explica tê-los abandonado porque há mais alegria por um pecador arrependido, do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento.
Por que Deus não ficaria alegre com noventa e nove justos que não precisam de arrependimento, se, como disse o salmista: Deus conhece o caminho dos justos? (Sl 1.6)
Porque justos são os que sempre se arrependem e não os que se julgam não necessitados de arrependimento.
Os fariseus eram assim, se julgavam justos que não precisavam de arrependimento, mas Jesus os denunciava por serem justos aos seus próprios olhos, mas não justificados por Deus (Lc 18.11-14)
Na parábola da moeda perdida, Jesus diz que ele é como a mulher que, tendo perdido uma dracma (salário de um dia de trabalho), revira toda a casa até encontrá-la, e, ao encontrá-la, chama vizinhas e amigas e faz uma festa.
A casa é Israel, e o que é revirado é tudo o que os fariseus, por conta própria, chamaram de sagrado, e que só servia para passar uma imagem falsa de Deus, afastando os homens da possibilidade do arrependimento. A dracma representava os publicanos.
Na parábola do filho perdido, Jesus concorda com os fariseus quanto aos publicanos: deixa claro que são pessoas que jogaram para o ar tudo o que tinham junto ao Pai, para viver dissolutamente, seduzidos pelos romanos, que, por fim, apenas lhes estavam oferecendo viver numa pocilga.
Mas o Pai jamais desistiu dos publicanos, mantendo-lhes aberta a porta do arrependimento.
Entretanto, os fariseus, a exemplo do irmão mais velho, não o admitiam. Entendiam-se como juízes de seus irmãos, não dando crédito ao arrependimento dos mesmos, até por julgá-los incapazes de tal ato.
Os fariseus, como o irmão mais velho, não conheciam, de fato, o Pai, e não o amavam; pior, entendiam que o Pai tinha uma dívida para com eles, por causa da fidelidade com que o serviam sem nada receber em troca. E, em não amando o Pai, não amavam a ninguém. E quem não ama não considera a possibilidade do arrependimento do outro.
Jesus, em muitos casos, podia até ter o mesmo enunciado que os fariseus, mas não tinha o mesmo coração.
E... Como disse o poeta e compositor Claúdio Manhães: “Diferente é o coração, a diferença é o coração!”
A boa doutrina tem de, necessariamente, gerar um bom coração, senão será, mesmo que correta, um enunciado vazio, por não ter frutificado no coração de quem a prega.

Autor, ARIOVALDO RAMOS.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

CONVERTEI-VOS

Porque o Reino dos Céus está Próximo

Segundo Grudem conversão é: “a nossa resposta espontânea ao chamado do evangelho, pela qual sinceramente nos arrependemos dos nossos pecados e colocamos a confiança em Cristo para receber a salvação”. Ele continua dizendo que conversão é voltar-se do pecado, da qual chamamos de arrependimento e o voltar-se para Cristo, isso é o que chamamos de fé. Em suma podemos dizer que conversão tem haver com a fé e o arrependimento. É estarmos caminhando em direção a um lugar, mas em certo momento darmos uma volta, e caminharmos em direção oposta.
Essa é uma definição famosa sobre conversão. Nesses dias refletiam sobre o aviso cheio de vigor de João Batista: “Convertei-vos, porque o reino do céu está próximo”. Claramente uma afirmação utilizada por mim durante muitos anos para convencer todos aqueles que não eram cristãos, na minha mente isso significava “crente”, a aceitarem Jesus. Creio que eu não era o único a utilizar-se desse recurso. Entretanto, percebi que estava equivocado, muito mais do que um pedido de conversão, João Batista estava fazendo uma denúncia contra um povo que conhecia muito de Deus, mas que tinha suas atitudes marcadas pela injustiça.
Quem precisava realmente se converter eram os sacerdotes de sua época, todos aqueles que se utilizavam do nome de Deus para legitimar suas ações marcadas pela injustiça. Era necessário converter, porque conhecer de Deus não qualificava ninguém como participante do seu Reino. Thiago já dizia: “Crês tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem”.
A conversão vem marcada por atitudes que demonstram que a minha fé é verdadeira. É produzir frutos do arrependimento, saber que não adiante falar de amor, de acolhimento, de comprometimento, de unidade, quando suas atitudes revelam brigas, intrigas, opressão e ausência do amor. Conversão é seguir a Jesus, o acompanhando de todo o coração e constantemente, compartilhando sua vida e destino ao custo de todas as alianças e compromissos, ligando-se a ele, engajando-se em sua obra, e assim, mostrando que estão qualificados para serem seus discípulos... nesse sentido essencial, é um dom de Deus, é o estar apto” (Karl Barth).
Diante disso, aprendo que para minha conversão ser verdadeira, é preciso que existam os frutos do arrependimento, e esses frutos nada mais são do que a minha fé, nascida do meu relacionamento com Deus, com o meu próximo e o com o meu distante. É minha fé tornando-se prática, quando ajudo a criar na terra seca um jardim, como Deus criou no Éden, quando eu visto a nudez como Deus vestiu Adão, quando visito o doente, como Deus visitou Abraão, quando conforto o triste, como Deus confortou Isaque, quando enterro o morto, como Deus enterrou Moisés.
Se a nossa fé não trouxer a justiça de Deus em nossos atos, não pertencemos ao Reino de Deus e então: “o machado já está posto, e árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo”.

Autor, RÉGIS PEREIRA.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Igreja

Igreja é um lugar onde o Pai se sente em casa,
Onde é adorado pelo que é e não pelo que pode,
Onde é obedecido de coração e não por constrangimento,
Onde o seu reino é manifesto no amor, na solidariedade, na fraternidade e serviço ao outro,
Onde o ser humano se perceba em casa e seja a casa de Deus e do outro,
Onde Jesus Cristo é o modelo, o desejo e o caminho,
Onde a graça é o ambiente, o perdão a base do relacionamento e o amor a sua cimentação.
Onde o Espírito Santo está alegre pela liberdade que desfruta para gerar e expressar a Cristo,
Onde Ele vê os seus dons serem usados para edificar, provocar alegria e servir ao próximo,
Onde todos andam abraçados,
Onde a dor de um é a dor de todos,
Onde ninguém está só,
Onde todos têm acesso ao perdão, à cura de suas emoções, à amizade e a ser cada vez mais
parecido com Cristo,
Onde os pastores são apenas ovelhas-exemplo e não dominadores dos que lhes foram confiados,
Onde os pastores são vistos como ovelhas-líder e não como funcionários a serem explorados.
Onde não há gente nadando na riqueza enquanto outros chafurdam na miséria,
Onde há equilíbrio, de modo que quem colheu demais não esteja acumulando e quem colheu de menos não esteja passando necessidades.
Enfim, a comunidade do reino de Deus,
Onde aparece a humanidade que a Trindade sonhou,
Onde a cidade encontra paradigmas.
Onde o livro texto é a Bíblia.

Autor, ARIOVALDO RAMOS.

A ressurreição e as minhas dúvidas

Pode haver diversas formas para descrever a fé cristã. Mas há só um evento que a sela como única: a ressurreição de Jesus. Gary Habermas, William Craig, Josh McDowell e outros expuseram de forma convincente a evidência desse que é, talvez, o mais perturbador evento da história. Estudos histórico-críticos progressivamente nos livraram de pressupostos insidiosos, que em grande parte determinavam de antemão os resultados da investigação da ressurreição, e reverteram o ceticismo a respeito da ressurreição histórica, de forma que a tendência entre os estudiosos mais recentemente tem sido a aceitação da credibilidade histórica da ressurreição de Jesus. Não recapitularei a evidência; minha reflexão aqui é motivada por outras questões que considero importantes. Como os discípulos de Jesus assimilaram o acontecido? Como o Mestre lidou com a reação deles? O que as respostas às duas perguntas anteriores significam para nós?
Quando as mulheres chegaram à tumba, a ressurreição já acontecera. Ficaram perplexas. A tumba vazia era uma realidade inusitada que demandava explicação, e elas temiam que o corpo de Jesus tivesse sido furtado.
Na época de Jesus não havia quem esperasse uma ressurreição no fluxo corrente da história. Por isso não era concebível ver Jesus vivo após sua crucificação. Isto torna compreensível que ele não tenha sido reconhecido de imediato na maioria dos encontros pós-ressurreição narrados nos evangelhos. Maria Madalena confunde Jesus com o jardineiro e percebe o equívoco quando ele pronuncia seu nome. Os dois discípulos de Emaús só reconheceram-no após sentarem-se à mesa com ele. Quando Jesus aparece aos discípulos reunidos em Jerusalém, eles inicialmente acreditam ver um fantasma. Dias depois, à margem do mar de Tiberíades, alguns deles frustrados com uma pescaria mal sucedida novamente demoram a reconhecê-lo. Jesus acabava sendo reconhecido – seu corpo tinha as marcas da crucificação –, mas não necessariamente à primeira vista.
Mateus termina seu evangelho descrevendo um encontro em que o Cristo ressurreto assegura sua autoridade e promete que estará conosco até o fim dos tempos. É uma cena de triunfo. Mas Mateus não omite que alguns duvidaram. Não haviam – ainda – conseguido vencer a perplexidade. Jesus não se preocupou em homogeneizar o grau de entendimento dos discípulos, nem em fazer com que todos estivessem com as dúvidas sanadas. Deu a todos seu último mandamento, a Grande Comissão, uma ordem que pressupõe uma capacidade de superação inumana, como detalha o livro de Atos.
Surtiu efeito. Isto fica claro na convicção com que o líder dos apóstolos, Pedro, escreveria anos mais tarde: “Não foi seguindo fábulas sutis, mas por termos sido testemunhas oculares da sua majestade, que vos demos a conhecer o poder e a Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”. A história não deixa dúvidas de que a ressurreição de Jesus e o que se seguiu a ela deu àqueles primeiros cristãos convicções tão intensas, que esta fé permanece a base da igreja dois mil anos depois. Foi o inexplicável, porém real, evento histórico do dia de Páscoa que desvendou quem Jesus realmente é, e forneceu o alicerce da nossa fé e do nosso conhecimento teológico.
A perplexidade inicial e as dúvidas dos discípulos são naturais. Faz parte dos homens o anseio por explicações que se encaixam nas suas visões pré-fabricadas do mundo. No caso da ressurreição de Jesus – como no caso de qualquer milagre – um limite fundamental da mente é atingido: falham as explicações reducionistas. A situação é superada somente pela razão que crê, pois ela ao fazê-lo se sintoniza com a realidade observada. Foi esta a opção dos discípulos; o desejo de explicação deu lugar à obediência e ao que a Bíblia chama adoração. O grande matemático Leonhard Euler (1707-1783) escreveu que “somos convencidos dos efeitos salutares da missão de nosso Salvador pela experiência”. Da experiência foi surgindo a convicção inabalável dos discípulos.
É do teólogo Samuel Rothenberg (1910-1997) a frase “um cristão sincero é composto de muitas perguntas”. Por toda vida seguimos tendo dúvidas e desejando explicações. Assim como aconteceu com os primeiros discípulos, para algumas de nossas perguntas haverá respostas que satisfarão nosso anseio por explicações, para outras não. Nestes casos faremos como eles: seguiremos a Jesus andando “por fé [em Deus/Jesus], e não por vista [no que não compreendemos]”. (2 Co 5.7) E conheceremos os efeitos salutares da sua missão pela experiência.


Escrito por, KARL HEINZ KIETNITZ.


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sobre crianças e eternidade

Vi um grupo de crianças brincando. Um monte de concreto era um barco, pedras eram torpedos e diziam estar cercadas de tubarões. (Foi impressão minha, ou eu mesma era considerada um desses tubarões, pelo jeito que uma das crianças apontou ameaçadoramente pra mim?). Eu estava ali bem perto, encarregada de cuidar do filho de amigos meus, que brincava naquele grupo de pessoinhas. De repente, já tinham asas, estavam no espaço e todos ao redor eram alienígenas. E a brincadeira prosseguia.
Fiquei pensando: criança pode ser o que quiser. Ela nem sabe o tamanho da vida, nem imagina que está só começando. Só tem a firme e inocente convicção da eternidade, bem como a certeza de que as possibilidades são tantas que a vida se torna uma deliciosa aventura. Morte? O que é morte? Quem lhe explicaria este evento? Nem se quisessem… Em seu coração tudo dura para sempre.
Pensei ainda: Deus quer que tenhamos o coração como o de criança. “Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus. Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus. Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo.” (Mateus 18:3-5).
Ser como criança engloba vários aspectos. Naquele dia, o que mais falou comigo foi essa sensação boa que só Deus pode dar de que o mundo pode ser o que quisermos – basta um olhar diferente, uma atitude diferente. Basta entendermos que a eternidade é real e que o Pai quer que tenhamos esta visão de que realmente podemos ser o que desejarmos, desde que isso sirva para engrandecer o Seu nome.
Que bobos somos nós quando pensamos que mais ensinamos do que aprendemos com as crianças. Elas são verdadeiros mestres das verdades de Deus.

Autora, FABIANA MELO.
Extraído do blog: http://fabipordentro.blogspot.com/

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Acolha as crianças como Jesus as acolheu

“Alguns traziam crianças a Jesus para que ele tocasse nelas, mas os discípulos os repreendiam. Quando Jesus viu isso, ficou indignado e lhes disse: ‘deixe vir a mim as crianças, não as impeçam; pois o reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. Digo-lhes a verdade: quem não receber o reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele. ’ Em seguida tomou as crianças nos braços, impôs-lhes as mãos e as abençoou. (Mc 10:13-16)
Jesus ensinava o que fazia e fazia o que ensinava.
Por sua prática de acolhimento, ele estava ensinando um novo jeito de se lidar com as crianças. Os pequeninos nunca representaram barreira para a missão. Quando trouxeram as crianças, os discípulos reagiram negativamente.
Para eles, aquela não era a ocasião propicia para se trazer crianças. Parece normal que as crianças sejam acolhidas, se abrirmos um parêntese em nossas programações, se há um dia marcado ou uma sala especial. Mas se as crianças aparecem nas ocasiões não previstas, nós as rejeitamos do mesmo modo como os discípulos de Jesus fizeram. A indignação de Jesus é decorrente da sua percepção em relação à indiferença e repudio que os discípulos manifestaram em relação às crianças. Pela primeira vez se usa a expressão “indignação” para se referir a um sentimento de Jesus Cristo.
Ele ficou indignado. Os discípulos não deveriam criar embaraço para que as crianças se aproximassem de Jesus. A presença de criança é sempre bem-vinda e prazerosa. Se você não se sente bem com a presença de uma criança há alguma coisa de errado na sua interioridade. Ou, se alguma coisa atividade não é propícia às crianças, provavelmente essa atividade não possui a natureza do reino de Deus.
Precisamos descobrir formas criativas de aproximação coletiva e publica com as nossas crianças. As crianças precisam de espaço social acolhedor que propicie proteção e vida abundante. O lar, os templos, escolas e praças de lazer e esporte são necessárias a qualquer criança em qualquer lugar do mundo. Embaraçar o acesso da criança a esses bens da vida causa indignação a quem tem o mínimo de senso de justiça e noção sobre direito. A nossa atitude em relação as crianças acontece numa pedagogia de duas mãos – enquanto as abençoamos, aprendemos com elas a respeito da simplicidade do reino de Deus. É o reino das pessoas que não possuem poder da compra, não estão nos escalões de poder social, não são reconhecidas por critérios de produção e em sua fragilidade humana dependem muito mais de Deus. As crianças, alem de priorizadas por Jesus Cristo, representam os critérios de cidadania das pessoas comprometidas co o reino de Deus e o evangelho de Jesus cristo, animo a todas as pessoas a buscarem criativamente caminhos inteligentes que possam tornar as nossas crianças agentes e motivo de nossa vocação e missão."

Autor, Pr. Carlos Queiroz.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Respeito Divino

João 21:17
Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu- se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu- lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas.
Pedro negara a Jesus da forma mais angustiante. O último contato entre Pedro e o Cristo fora logo após o canto do galo. A profecia se cumprira: antes do galo cantar, Pedro negara, três vezes, conhecer ao Cristo; e quando o galo cantou os olhares de Pedro e do Cristo se encontraram... Nada mais restava a Pedro, senão sair para chorar.
Quando as mulheres, no domingo da ressurreição, foram ao túmulo para embalsamar o corpo de Jesus, encontraram o Anjo, que, após comunicar a ressurreição do Cristo, transmitiu-lhes a missão de comunicar aos discípulos e a Pedro, que o Cristo os encontraria na Galiléia.
Ao orientar ao Anjo que nominasse a Pedro, Jesus comunicou-lhe que fora perdoado e reincluso no colégio dos alunos do Cristo. Estava de volta ao time!
Galiléia dos gentios... Jesus reencontra Pedro. Primeiro, comeram, sempre um momento de descontração, ainda que estivessem diante do numinoso manifesto em carne, o que sempre silencia quem quer que seja. O mistério, quanto mais maravilhoso, mais impõe o pausa da reverência. E, então, começa um diálogo inusitado que não surpreende pelo constrangimento natural, mas pelo conteúdo.
Jesus tem a conversa esperada com seu aluno renegado, mas, para surpresa geral e particular, não toca no assunto. Não inquire sobre os motivos de tal abjeto ato, que, ademais, lhe havia sido avisado com antecedência; não questiona o porquê de não ter pedido ajuda quando teve oportunidade, nem pronuncia o temerário: "eu não lhe disse?".
Jesus, o Cristo, respeita o arrependimento de Pedro. O Messias quer, apenas, saber se a base para a retomada de qualquer relacionamento continua presente no coração do aprendiz. Se Pedro ainda o amava.
O mais triste no pecado é perceber que, ainda que por um momento, um amor consumido pelo egoísmo traiu o amor que sustenta vida, o amor por aquele que, na essência, é amado mais que a própria vida.
Arrepender-se é voltar consternado ao amor que, abandonar leva à perda do sentido da existência. Esse retorno tem de ser respeitado!
Nada mais angustiante do que o desrespeito ao arrependido. Nada mais terrível do que erro já confessado continuar a ser o assunto de rodas de pretensos irmãos. Nada mais aviltante do que pessoas a quem foi pedido perdão, principalmente, se mentores, ficarem a espalhar o que lhes foi dito no lugar sagrado da confissão.
A condicão indispensável para se sustentar a sinceridade do perdão ou do amor é o respeito ao arrependimento. Logo, o respeito ao arrependido. A maneira de respeitar o arrependido é o silêncio que dá lugar ao amor. O arrependimento é fruto de dor que o perdão deveria consolar.
Jesus acreditou em Pedro e lhe devolveu a honra, devolveu-lhe as chaves do Reino. O Cristo sempre faz assim quando perdoa!
E o surpreendente, tendo como base o cristão moderno, é que os demais apóstolos nunca questionaram o ato do Cristo. Ninguém saiu a contestar Pedro ou a reinvidicar para si as chaves pelo Senhor devolvidas. Ninguém nunca mais tocou no assunto. Não há pecado onde Deus não imputa pecado. O arrependimento tem de ser respeitado. Pedro voltou a ser digno de confiança como o deve ser quem quer que tenha se arrependido.

Escrito por, ARIOVALDO RAMOS
Retirado do Blog: http://ariovaldoramosblog.blogspot.com/

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O Perfeito Amor Lança Fora Todo Medo

Na última semana participei do lançamento do livro; Meninos de Deus – um olhar para o caminho. O livro foi criado como culminância de um projeto chamado Rota da Paz. Os jovens escritores carregam consigo o estigma de serem infratores, mesmo que alguns nunca tenham cometido uma infração, e por isso não mereciam confiança, nem respeito. A idéia do livro era que a comunidade a partir daquele momento pudesse ver esses jovens com outro olhar, que transparecesse respeito e confiança.

Na hora da fala do idealizador do grupo, me perguntei o que leva uma pessoa a perder o medo da violência e enfrentar traficantes e gangues, para que assim jovens pudessem abandonar o caminho das drogas, assaltos e voltarem a serem respeitados em sua comunidade e famílias? Só uma resposta caberia. Tudo isso foi por amor. Um perfeito amor que não negou o medo da violência, mas soube superá-la a permitir que outros também conseguissem.

O autor de I João fala desse perfeito amor que supera os medos. Para ele, qualquer confissão na pessoa de Deus, deve está personalidade nas relações humanas. Quando ele diz “amem uns aos outros” (4.7), não está fazendo um pedido, mas dando um aviso: “Se vocês realmente pertencem a Deus, o amor aos seus irmãos será a prova disso”.

Nessas relações humanas, esse temor que representa o medo é a deixado de lado, pois ele implica em castigo, amedrontamento, ameaça e intimidação. E onde predominam esses fatores, o amor é colocado em segundo plano, a vida começa a perder o seu valor.

A lição que podemos tirar dessa história e que superaremos a violência quando deixarmos que o perfeito amor tome conta de nossas vidas. Quando nossas relações não forem regidas mais pela ameaça, orgulho ou qualquer forma de escravizar o homem e a mulher. É necessário aprendermos que a violência não está somente no outro, mas também está em mim, e precisa ser controlada pela força do amor. Jesus superou a violência contra ele amando: “Pai perdoa está gente! Eles não sabem o que estão fazendo.” (Lucas 23.34). Talvez, esse fosse o indicio de como deveríamos nos comportar diante dos medos que temos em nossos dias. Um indicio que é necessário amar, e amando, permitir que o Reino de Deus esteja entre nós, para que seus meninos e meninas sejam felizes.


Escrito por RÉGIS PEREIRA.
Extraído do:http://www.regispereira.blogspot.com/

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Deus viu que era bom!


Eu aprendi olhando o pôr do sol
Que o dia se despede com acenos cor de crepúsculo
Com promessa de que voltará trazendo consigo uma porção de renovo
A um coração que vê o surgir da escuridão,
que também tem seus traços de beleza.

Beleza essa que se torna invisível aos olhos da angústia,
Pois ela é pessimista demais para perceber os pontos,
Pontos de beleza no breu da escuridão azul.

Mas ela está brilhando e brilhando,
Às vezes se movendo rapidamente como
discretamente querendo chamar atenção.

O dia nasce com proposta de misericórdia
Cumprindo o que havia prometido:
Renovo, tranqüilidade, esperança...

Os olhos já não podem ter mais desculpas
Para deixar de enxergar a beleza
Apesar de ela sempre estar aí,
Pois a própria vida é bela.

E Deus viu que era bom!
Por ROBSON BARROS

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Nome

Melhor é o longânimo do que o herói da guerra, e o que domina o seu espírito, do que o que toma uma cidade.
Pv 16.32

Contra o que lutamos? Contra nós mesmos.
Daí, melhor a paciência para com o outro:
É treinamento para autodomínio.
O que precisamos conquistar? A nós mesmos.
Daí, melhor dominar o próprio espírito!
Quando a gente muda, uma parte do mundo muda com a gente.
Há os sinalizadores e os voluntariosos:
Os sinalizadores esperam e apontam caminhos.
Eles se conquistaram porque sabem do jeito de viver.
Deus existe: há um jeito certo de viver.
Os voluntariosos só têm tempo para si, para a sua vontade.
Até podem vencer guerras, mas não a principal: consigo mesmo.
Há dois Enoques na Bíblia:
Um herdou uma cidade que lhe era homônima.
A gente não sabe quanto ele viveu.
Sua família, para não mais voltar, saiu da presença de Deus,
Sua família quase levou o mundo à destruição.
O outro era da família que invocava a Deus…
Sabemos quanto tempo e como viveu.
Ele e toda a sua família:
É que só é contado o dia vivido diante de Deus!
Ele andava com Deus… E tanto! Que Deus o tomou para si!
O primeiro dominava uma cidade, o segundo se dominava.
Nome: todos têm um.
Alguns pensam que o nome o fará, e mudam de nome para mudar.
Nome é a gente que faz, com a vida que vive.
Um dia, porém, Deus mudará o nome de todos os que foram tornados seus:
Para o nome que conosco construiu.
Nome: cada um terá o seu!

Escrito por, ARIOVALDO RAMOS.
Texto extraído do Blog: ariovaldoramosblog.blogspot.com/

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Fraseando

Deus é tão bom, que, a cada dia, me exercito em perceber os seus milagres, em tudo e em todos.
Na ressurreição do Cristo comemoramos o dia em que a humanidade venceu. A partir do que, tudo é, apenas, uma questão de tempo! Deus se realiza em nos fazer gente feliz!
Ser cristão é subir uma escada rolante: não é você que sobe a escada, é a escada que sobe você.
A divisa da Igreja: cada cristão como o Cristo; cada comunidade local como a Trindade; cada pessoa tendo a oportunidade de entrar no Reino; a sociedade humana como o Reino; e o planeta como o Jardim.
O segredo do cristão não é nunca pecar, mas sempre se arrepender.
Santidade é dedicação exclusiva à Trindade.
A vitória do cristão, não é não passar pelo sofrimento, é não ser derrotado por ele.
Sofrer é um verbo que o cristão não precisa conjugar.
Dar, a Deus, graças, em tudo, é colocar a vida nos braços do Pai.
De arrependimento em arrependimento somos, pelo Espírito, transformados à imagem do Cristo: a glória de Deus!
Somos filhos do Deus que sempre quis ser o nosso Pai.
Estar em Cristo, desde antes da fundação do mundo, é ter certeza de que a sua existência não foi um acidente... Alguém queria você.
A cada vez que, em nossa forma de viver, atendemos ao Cristo, a exemplo dos garçons do casamento em Canaã, nos tornamos agentes de milagres.
Nem sempre entendemos o que o Cristo nos pede, mas sabemos que redundará em algum milagre para o bem de muitos.
Ter ao Cristo, como o principal convidado em nossa vida, é saber que tudo pode recomeçar, não importa o que aconteça.
Todos estão sob a lei da impossibilidade, quando tudo, o que possa ser feito, escapa ao nosso controle.
Só o milagre vence essa lei. O cristão vive na esperança do milagre... Sempre.
Vida cristã é andar sobre as águas, logo, só pode ser vivida no poder do Espírito.
Renovar o entendimento é saber que o que se sabia sobre ser sustentado pelas águas mudou, desde que Cristo andou sobre elas.
A glória de Deus é ter misericórdia de quem quiser, logo, a glória de Deus passa por nós.

Escrito por, ARIOVALDO RAMOS.
Texto extraído do Blog: ariovaldoramosblog.blogspot.com/

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Gente Feliz!


Feliz é quem não segue os conselhos dos perversos: essa gente que sonega o direito; persegue o inocente; e, para quem, os fins justificam os meios.

Feliz é quem não relativiza o amar a Deus, acima de tudo, e o amar ao próximo, como a gente gosta de ser amado, como guia para toda a ação.

Feliz é quem sabe que toda a vida é sagrada, e a preserva.
Feliz é quem vive e anda com os justificados: promovendo o direito e preservando toda a vida.

Feliz é o que está plantado na comunidade dos declarados justos: onde esse amor é o modo de viver,
e a vida, então, flui como um rio, que o faz crescer como uma árvore sempre verdejante.

Feliz é o que dá tempo ao tempo, e, no tempo certo, faz o que tem de fazer.
Feliz é o que sabe que o prazer não é um lugar, mas uma construção.

Feliz é o que medita em como ser gente como gente deve ser: que medita em como viver a partir do amar
a Deus acima de tudo, e do amar ao próximo como a gente gosta de ser amado.

Feliz é quem anda nesse caminho onde a maldade não tem lugar: porque esse é o caminho de Deus!


Escrito por, ARIOVALDO RAMOS.
Texto extraído do Blog: ariovaldoramosblog.blogspot.com/


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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

EU estou com VOCÊ todos os dias!


Na semana que se passou me encontrei numa situação difícil. Recebi pela madrugada a notícia que meu tio que estava com câncer tinha falecido. Fiquei desolado por não saber o que fazer, desejava ardentemente estar junto com minha família, consolando e sendo consolado.                                                                                                                                        Mas o episódio da morte do meu tio era apenas mais um dos sofrimentos e das incertezas que estava vivendo. Juntando todas essas incertezas com os lampejos de sofrimento diário que vivenciava caí em tristeza e revolta dentro de mim. Estava revoltado com a situação que vivia, revoltado com o próprio Deus e com a solidão que sentia naquele momento. Foi uma das semanas mais atribuladas e tristes que tinha passado.
Quando chegou o domingo, subiu ao púlpito, como tenho feito a maioria dos domingos. Não subi feliz, a dor e a tristeza ainda tomava conta de mim. Escolhi o texto de Josué, capítulo primeiro, onde Deus repete várias vezes para o novo líder do seu povo: não temas. Tentava de alguma forma dizer para mim mesmo que Deus dizia aquelas palavras direcionadas a mim. Que ele estava no controle da minha vida, e toda aquela situação iria passar, mas não conseguia convencer a mim mesmo, nem aqueles que prestavam atenção em minha palavra.
Enfim, desabafei. Estou triste! Perdi o meu tio e não tive condições de estar com minha família para poder partilhar da dor que sinto aqui dentro. Desculpem-me, também estou tentando acreditar que Deus está no controle de todas as coisas e que não devo temer. Cantamos que “nunca vimos um justo sem resposta ou padecer no sofrimento...” Quero também dizer que além de triste, estou com dúvidas. Acho que não sou justo! A única coisa que posso dizer para vocês hoje é que também acredito que não devo temer, mas quero confessar que tenho medo, e a única certeza que tenho que de algum modo Deus está comigo.
Então, orei e desci do púlpito e sentei na minha cadeira na segunda fileira da igreja. Ouvi algumas palavras de apoio, em meio ás lágrimas, de uma irmã. Quando terminou o culto um irmão veio ao meu encontro com a sua Bíblia aberta e disse: sabe o que está inscrito em II Coríntios? Eu brinquei: muita coisa. Então ele leu para mim o que queria mostrar: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus. Porque, como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação por meio de Cristo” (II Co 1.3-5). E continuou: Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel. E eu lhe mostrarei quanto deve sofrer pelo meu nome (Atos 9.15-16).
Aquele momento rápido me fez lembrar que todos somos sacerdotes de Deus, com igual capacidade de ministrar sobre a vida uns dos outros. Acostumado a pastorear, fui pastoreado e exortado por aqueles que cuidam de mim. Entendi que um justo também sofre, pois Jesus tinha sofrido, e que quando Deus diz não temas, na verdade ele está dizendo, eu também senti a dor de que você está sentindo, senti o abandono e a tristeza quando morri numa cruz. Por isso que o “não temas” de Deus nunca está sozinho, sempre vem acompanhado de um “eu estou com você todos os dias de sua vida”.

Escrito por, REGIS PEREIRA.
Extraído do blog: http://www.regispereira.blogspot.com/

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Meninos e Meninas Especiais


Por várias vezes temos nos referido ao jeito carinhoso e atencioso com o qual Jesus Cristo acolhia as crianças. Nesta reflexão falaremos de um segmento infantil com características especiais. Não vou falar de crianças ex-peciais – fora da espécie –, mas sim especiais – preciosas, diferentes, encantadoras.

Sempre fez parte da missão de Jesus incluir em seu ambiente pessoas diferentes, em geral excluídas pela sociedade de seus dias. Ele aproximou-se de leprosos, acolheu as crianças, deu aos doentes uma atenção diferenciada. Precisamos seguir o exemplo de Jesus Cristo, já que a igreja é continuadora da sua missão.

Tenho sido muito abençoado em momentos de convivência com esses personagens fora do comum. Éric é um sobrinho querido que nos trouxe muitas alegrias. Ele tem um cromossomo 21, causador de uma diferenciação peculiar dos demais seres humanos, denominada Síndrome de Down. Minha irmã tem Éric como uma dádiva divina, uma espécie de presença de Deus no seio da família.

A Júlia é uma preciosidade em nossa comunidade. Ela participa dos nossos momentos de louvor e oração com tal encantamento que, em geral, nos cativa a chegarmos mais ávidos à ambiência gerada por suas expressões e gestos de louvor e celebração pela vida. Na década de 80 conheci Zezinho. Ele está na lista dos meus amigos mais especiais. Zezinho não falava, mas na tentativa de cantar com um grupo de jovens de nossa igreja, além de outras participações com os idosos de nossa comunidade, ele aprendeu a falar. Zezinho tem uma habilidade extraordinária para a música e esta habilidade foi sendo descoberta pelo acolhimento e chances que a igreja lhe proporcionou.

Conheço um outro Éric, além do meu sobrinho. Ele é filho de uma amiga muito querida. Leia a seguir o depoimento da sua mãe, Rose:

“Nos acostumamos com ambientes que excluem ou observam a criança como objeto de admiração e alívio ‘porque os meu filhos são saudáveis’. É raro encontrar um ambiente acolhedor, não tanto pelo preconceito que advém do desconhecimento, mas pela falta de disposição para conviver com o outro.

Achávamos que isso não aconteceria no ambiente religioso, já que espiritualidade nos remete a aprender a acolher. Puro engano. Por anos, deixamos de freqüentar uma igreja por não nos sentirmos aceitos. O jarro, o púlpito, o ritual, o show, a estética... é sempre mais importante que as pessoas.

Meu filho é portador de sequela de toxoplasmose; possui um cérebro pequeno (microcefalia), não é regido pelas conveniências sociais, mas sabe se comunicar sem falar, amar sem cobrar, tocar músicas em instrumentos de percussão sem comercializar, sentir sem explicar, enxugar nossas lágrimas no momento de tristeza (o que enche o nosso coração de gratidão e alegria); sabe receber e ser hospitaleiro sem imposições, orar sem barganhar, louvar a Deus e adorá-lo espontaneamente. Enfim, sabe ser gente.
Hoje estamos em uma igreja acolhedora, que o percebe como pessoa. Que permite que ele participe de todas as celebrações, batismo, ceia e ministério. A comunidade tem nos ensinado a paciência, a contemplação do diferente percebendo a sua beleza; tem nos ensinado o amor incondicional. Eu concordo, sem falsa modéstia: Meu filho é especial mesmo! A inadequação não vem das pessoas diferentes, mas sim de nós, os ‘normais’, que não sabemos como conviver com o outro!”

Animo a sua igreja e a sua comunidade a receberem com mais alegria e contemplação os meninos e meninas especiais.

Escrito por, PR. CARLOS QUEIROZ.

terça-feira, 2 de março de 2010

SOBRE PASTORES E LOBOS

Pastores e lobos têm algo em comum: ambos se interessam e gostam de ovelhas, e vivem perto delas. Assim, muitas vezes, pastores e lobos nos deixam confusos para saber quem é quem. Isso porque lobos desenvolveram uma astuta técnica de se disfarçar em ovelhas interessadas no cuidado de outras ovelhas. Parecem ovelhas, mas são lobos.
No entanto, não é difícil distinguir entre pastores e lobos. Urge a cada um de nós exercitar o discernimento para descobrir quem é quem.
Pastores buscam o bem das ovelhas, lobos buscam os bens das ovelhas.
Pastores gostam de convívio, lobos gostam de reuniões.
Pastores vivem à sombra da cruz, lobos vivem à sombra de holofotes.
Pastores choram pelas suas ovelhas, lobos fazem suas ovelhas chorar.
Pastores têm autoridade espiritual, lobos são autoritários e dominadores.
Pastores têm esposas, lobos têm coadjuvantes.
Pastores têm fraquezas, lobos são poderosos.
Pastores olham nos olhos, lobos contam cabeças.
Pastores apaziguam as ovelhas, lobos intrigam as ovelhas.
Pastores têm senso de humor, lobos se levam a sério.
Pastores são ensináveis, lobos são donos da verdade.
Pastores têm amigos, lobos têm admiradores.
Pastores se extasiam com o mistério, lobos aplicam técnicas religiosas.
Pastores vivem o que pregam, lobos pregam o que não vivem.
Pastores vivem de salários, lobos enriquecem.
Pastores ensinam com a vida, lobos pretendem ensinar com discursos.
Pastores sabem orar no secreto, lobos só oram em público.
Pastores vivem para suas ovelhas, lobos se abastecem das ovelhas.
Pastores são pessoas humanas reais, lobos são personagens religiosos caricatos.
Pastores vão para o púlpito, lobos vão para o palco.
Pastores são apascentadores, lobos são marqueteiros.
Pastores são servos humildes, lobos são chefes orgulhosos.
Pastores se interessam pelo crescimento das ovelhas, lobos se interessam pelo crescimento das ofertas.
Pastores apontam para Cristo, lobos apontam para si mesmos e para a instituição.
Pastores são usados por Deus, lobos usam as ovelhas em nome de Deus.
Pastores falam da vida cotidiana, lobos discutem o sexo dos anjos.
Pastores se deixam conhecer, lobos se distanciam e ninguém chega perto.
Pastores sujam os pés nas estradas, lobos vivem em palácios e templos.
Pastores alimentam as ovelhas, lobos se alimentam das ovelhas.
Pastores buscam a discrição, lobos se autopromovem.
Pastores conhecem, vivem e pregam a graça, lobos vivem sem a lei e pregam a lei.
Pastores usam as Escrituras como texto, lobos usam as Escrituras como pretexto.
Pastores se comprometem com o projeto do Reino, lobos têm projetos pessoais.
Pastores vivem uma fé encarnada, lobos vivem uma fé espiritualizada.
Pastores ajudam as ovelhas a se tornarem adultas, lobos perpetuam a infantilização das ovelhas.
Pastores lidam com a complexidade da vida sem respostas prontas, lobos lidam com técnicas pragmáticas com jargão religioso.
Pastores confessam seus pecados, lobos expõem o pecado dos outros.
Pastores pregam o Evangelho, lobos fazem propaganda do Evangelho.
Pastores são simples e comuns, lobos são vaidosos e especiais.
Pastores tem dons e talentos, lobos tem cargos e títulos.
Pastores são transparentes, lobos têm agendas secretas.
Pastores dirigem igrejas-comunidades, lobos dirigem igrejas-empresas.
Pastores pastoreiam as ovelhas, lobos seduzem as ovelhas.
Pastores trabalham em equipe, lobos são prima-donas.
Pastores ajudam as ovelhas a seguir livremente a Cristo, lobos geram ovelhas dependentes e seguidoras deles.
Pastores constroem vínculos de interdependência, lobos aprisionam em vínculos de co-dependência.
Os lobos estão entre nós e é oportuno lembrar-nos do aviso de Jesus Cristo: “Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores (Mateus 7:15).

Autor, Osmar Ludovico da Silva.
Diretor e mentor espiritual, dirige cursos de espiritualidade, revisão de vida e de pastoreio de pastores e missionários. Casado com Isabelle e pai de Priscila e Jonathan, reside em Cabedelo, Paraíba.


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

NUTRE 2010


Tal qual a saúde e a beleza revelam à boa e necessária alimentação do corpo, a espiritualidade sadia revela a boa e adequada alimentação da alma. . Um corpo bem alimentado é um corpo sadio e resistente as doenças. Uma vida bem alimentada espiritualmente é igualmente sadia e resistente as doenças da alma.
A palavra de Deus e as práticas devocionais tem sido ao longo da historia, um alimento consistente da fé dos fiéis.
Dentro dessa visão a ICA convida a todos para participarem do NUTRE 2010, um momento de banquete espiritual. O primeiro encontro desse ano será nos dias 07, 14, 21, e 28 de Março, as 09h00min na ICA. Teremos somente dois encontros esse ano, por isso é muito importante que você reserve as manhãs dos domingos do mês de Março para participar desse momento.
O NUTRE funcionará com quatro salas, a saber; Leite, Pão, Peixe e Mel. No entanto, nesse primeiro encontro teremos apenas duas delas; Leite e Pão.
Simultaneamente ao NUTRE, teremos o NUTRE Kids, para as crianças, assim toda a família estará envolvida nesse projeto de edificação cristã.
Reserve já sua mesa, digo sua inscrição, nessa ceia de fé, reflexão e compromisso com a palavra de Deus e com a missão que Ele nos tem dado.

“Uma comida tenho a comer, é fazer a vontade de Deus”.

Pr. Manoel Góis

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O Sermão do Monte

O Sermão do Monte é uma espécie de “supra-sumo” elaborado por Mateus, baseado nos ensinamentos de Jesus. Não me parece uma mensagem focalizada a dar respostas a todas as perguntas da vida; ma, sem dúvida alguma, é relevante para o tipo peculiar de vida proposto por Jesus. É uma proposta suficiente em si mesma e aponta apara a realização plena da nossa humanidade. No Sermão, Jesus aprofunda ensinamentos relacionados à espiritualidade, ética, caráter e atitudes dos seus discípulos, de tal maneira que, se postos em pratica, são suficientemente capazes de propiciar ao discípulo uma vida bem-aventurada, estável, sem ansiedade, comparada por Jesus a alguém que tem “uma casa edificada sobre a rocha”. À margem dos ensinos, valores e paradigmas do Sermão as pessoas ficarão vulneráveis à destruição, a semelhança de alguém que construiu sua casa sobre a areia, e sopraram nela os ventos, deram um ímpeto sobre ela, e por estar edificada sobre a areia foi grande a ruína (Mt 7.26,27). Viver à margem dos ensinos de Jesus é uma opção contra a vida. É, de fato, um exercício suicida.
O Sermão do Monte nos ajuda a entender a vida a partir de novos prismas, valores, princípios, virtudes e perspectivas. Na verdade, o que Jesus apresenta não deveria ser considerado tão novo assim é o sentido humano pleno para o qual todos fomos criados. Criados para a vocação de ser gente. Aliás, dentre os aspectos do Sermão, talvez o mais significativo, mais espiritual e mais bem-aventurado seja justamente este: a redescoberta da vocação humana. A vocação da justiça: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça”. Bem-aventurados os misericordiosos, os pacificadores, os limpos de coração, os mansos- virtudes não cultivadas pelos desumanos. Fora do projeto vocacional de ser gente, o ser humano é infeliz, não realizado com a vida. Ao discípulo, Jesus oferece realização plena da existência humana. Bem-aventurado, feliz, “de bem com a vida”, realizado por ser gente, suficientemente gente é “todo aquele que ouvindo estas minhas palavras (de Jesus) e as pratica.”
O Sermão do Monte contém ensinos para quem deseja viver um projeto de vida muito além da mediocridade. Os ensinos são demasiadamente elevados para os desumanos; mas são, ao mesmo tempo, demasiadamente simples para quem vive a naturalidade de existência humana. Para Jesus, por exemplo, viver e praticar seus ensinamentos era a cosa mais trivial e comum. O difícil para ele era exatamente não se deixar fluir das virtudes e princípios que ensinava. Todavia, por causa do pecado, nossas falhas e limitações, reconhecemos que diante das palavras de Jesus todos somos denunciados, ficamos de alma despida e em geral deparamo-nos com um desmesurado sentimento de insuficiência. Este abençoado senso de limitação conduz o discípulo à oração, à confissão e, conseqüentemente, à total dependência de Deus. Emaranhada à mesma realidade há a constatação de que, a despeito da nossa insuficiência, é possível vivenciar os ensinos de Jesus. Evidentemente, não parece tão simples como estamos expondo. O próprio Jesus passou por momentos cruciais em que precisou orar: “Meu Pai: se possível passe de mim este cálice!”... A cruz foi uma decorrência da pratica do Sermão do Monte. Ele mesmo reconheceu q eu este é um caminho apertado, uma opção de alto risco, uma estrada espinhosa e de portões estreitos (Mt 7.13,14).
Portanto, o Sermão do Monte, ao mesmo tempo em que denuncia a nossa limitação e a magnitude da proposta de Jesus, anuncia o quanto necessitamos buscar o monitoramento do Espírito Santo. A profundidade da mensagem, suas implicações e a radicalidade dos ensinos de Jesus indicam a carência que todos temos, de ser conduzidos sob a graça preciosa de Deus. Na ótica de Paulo, há um projeto de vida proposto para cada discípulo de Jesus Cristo: “Ser transformado de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2 Co 3.18). O discurso de Jesus em Mateus 5 a 7 nos compromete e desafia nessa direção.
Antes, porém, de nos lançarmos ao desafio d penetrar nesse “discurso”, convém atentarmos para algumas informações preliminares que nos ajudarão a situar-nos dentro do Sermão do Monte.

1. Sobre o autor

De pronto, estamos aceitando a tradição mais generalizada, segundo a qual Mateus, que era também chamado de Levi, é o autor do livro que leva seu nome. Tanto Mateus quanto Levi são nomes hebraicos, e o próprio livro está repleto de conteúdos que indicam uma fonte hebraica: as referências ao Antigo Testamento, os nomes exclusivamente ligados à experiência religiosa dos hebreus. Mateus era cobrador de impostos (Mt 9.9, Mc 2.14, Lc 5.27-29) e sua profissão deve ter influenciado consideravelmente o conteúdo de seus escritos. Na Oração Dominical, por exemplo, ele pede perdão pelas “dívidas”, e não pelos pecados, como faz Lucas. Inclui varias parábolas de credores infiéis e de cobradores severos, a fim de, em termos comparativos, realçar a misericórdia e o perdão de deus sobre os pecadores arrependidos; em oposição, destaca a crueldade dos cobradores de impostos diante de seus clientes inadimplentes.
Mateus, após seu encontro com o Messias, descobriu que não era possível servir a Deus e às riquezas (Mt 6.24). Sua convicção de chamado, ao que tudo indica, o fez abandonar a profissão para tornar-se um seguidor de Jesus Cristo (Mt 9.9).

Extraído do livro: “Ser é o bastante.” Autor Carlos Queiroz.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Num desses dias

O pecado da era pós-cristã

Num desses dias, alguém me perguntou como se deve proceder quando em pecado. Respondi o óbvio: arrepender-se. A pessoa contestou dizendo que o pecador também é vítima e precisa ser entendido como tal.
Essa me parece ser a discussão dos dias correntes: pecador ou vítima?
A Bíblia reconhece que qualquer pessoa pode ser vítima do pecado de alguém ou mesmo da conjuntura social, ou da estrutura politico-econômico-social, porém, não entende que isso possa justificar qualquer ato pecaminoso. Para a Bíblia todo ser humano é sujeito da e na história, principalmente, de sua história. Todos são pessoalmente responsáveis, ainda que possa haver atenuantes ou agravantes.
Para a Escritura Sagrada o que se pede do pecador é que se arrependa, isto é, que assuma o seu erro e a sua responsabilidade. Arrepender-se é aceitar a punição da lei. Um pecador arrependido é aquele que admite merecer a punição que a Lei de Deus prescreve para ele. Que, em última instância, é a morte: “A alma que pecar, morrerá.” Ez 18.4.
O Novo Testamento, entretanto, nos ensina que todo o pecador que se arrepender, isto é, todo o que admitir e confessar o seu pecado será por Deus perdoado, como ensina o apóstolo João. 1Jo 1.9. E, por ser perdoado por Deus, deve ser perdoado pelo ser humano a quem ofendeu. Entretanto, o pecador não tem como exigir o ser perdoado. O pecador pede perdão, mas, não o exige; pelo simples fato de que perdão não é um direito do pecador é uma benesse do ofendido. Porque perdão é graça.
É verdade que o cristão não tem como não perdoar. Mt 6.12. Contudo, essa é uma questão entre a vítima e Deus. Além disso, o pecador não tem o direito de reclamar do sofrimento de que foi acometido como conseqüência de seus atos - no relacionamento ofensor e ofendido (isso não justifica o ofendido, caso sua reação seja pecaminosa). É a lei da semeadura: “Semeia-se vento, colhe-se tempestade.” Os 8.7. E é preciso que se diga que, por pior que seja o sofrimento que o pecado venha a provocar sobre o pecador, ainda é menor do que o Inferno ao qual ele fez jus.
Todo o que confessa o seu pecado será perdoado e restaurado por Deus. 1Jo 1.9. Porém, confessar é assumir a responsabilidade e admitir a justiça da punição pelo que fez. Ainda que a punição não virá pelo fato de já ter sido sofrida por Cristo.
Nesta época tal reflexão está se tornando impensável: porque vivemos numa era de vítimas. Hoje, não importa o erro que a pessoa cometa, ela é sempre vítima: seja da sociedade, seja da história, seja da economia, seja da política, seja das instituições, seja da família. Ninguém é culpado. Logo, como alguém disse: é uma época em que ninguém assume a responsabilidade, nem adia prazeres e nem se presta a sacrifícios.
Essa época é pós-cristã não porque não se fale mais de Deus, pelo contrário, provavelmente, poucas vezes na história se falou tanto de Deus, mas, porque não se fala e nem mais se admite a realidade do pecado. Esta é uma era onde não há mais pecadores, só há enfermos. É o auge do humanismo: o pressuposto de que o ser humano é intrinsecamente bom venceu; e, ora, gente intrinsecamente boa não peca, adoece. E doentes são vítimas. O que ainda não se percebeu nesta presente era é que doentes não podem ser perdoados. Só pecadores podem ser perdoados. Logo, só pecadores podem ser restaurados; só pecadores podem ser tornados puros de toda a injustiça que cometeram. O que será dos que estão prontos para assumir que estão enfermos, mas, jamais que são pecadores? A probabilidade maior é a de continuar pecando cada vez mais e pior, contraindo, aí sim, uma doença para a qual não há cura: a voracidade de ser aceito de qualquer jeito, por julgar ter o direito de ser de jeito qualquer. Essa enfermidade coloca a pessoa a deriva dos mais grotescos apetites, tornando-a escrava dos instintos, que se tornarão cada vez mais irresistíveis. É a escravidão do pecado. Jo 8.34. E disso só se escapa quando, finalmente, a todos os pulmões o pecador confessa: “Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa”.

Escrito por; Ariovaldo Ramos.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

EM SEIS PASSOS QUE FARIA JESUS

SEXTO PASSO
Sensualize a sua espiritualidade

Sensualizar. Tornar (-se) sensual.
Sensual. Relativo aos sentidos ou aos órgãos dos sentidos. Os últimos serão os primeiros.
Os cinco primeiros passos que examinamos neste panfleto estão inevitavelmente maculados por intelectualização. Quero dizer com isso várias coisas. Em primeiro lugar, que a pessoa que se deparava com Jesus nos seus dias “mortais” não era impactada de qualquer modo direto ou natural pelo teor desses passos. São necessários observação e algum treinamento intelectual para abstrair-se a partir do que sabemos do comportamento de Jesus fórmulas gerais como “faça o que os outros não esperam” (segundo passo) e “viva inteiramente inserido no seu mundo” (quarto passo). E Jesus, como se sabe, impactou de forma transformadora gente que teve muito pouco tanto de uma coisa quanto de outra: pessoas pouco instruídas e pouco armadas de recursos intelectuais, muitas das quais estiveram com ele por pouco mais do que alguns minutos.Não ocorreria aos que seguiam Jesus de um vilarejo a outro particular a postura dele com o vocabulário intelectual que temos adotado: era afinal de contas muito visível que o próprio Jesus não o fazia. Ao contrário dos agnósticos que apropriaram-se do seu nome nos anos que se seguiram, Jesus recusava-se a ensinar que a salvação
estivesse relacionada a algum conhecimento específico sobre o mecanismo de Deus, do universo ou mesmo da salvação. Na verdade, parte essencial da originalidade do pensamento do Filho do Homem está na sua ênfase de que não há qualquer mérito no conhecimento intelectual, e que o acesso ao favor de Deus não depende de modo algum dele.
Concluo que, qualquer que seja o esquivo cerne da mensagem do Filho do Homem, seria heresia pensar ou sugerir que esteja em alguma dos pontos que temos discutido. Os “passos” que analisamos
até aqui são abstrações, meras tentativas intelectuais de representar a realidade. Por mais radicais e originais que pareçam, são uma forma de teologia e por essa razão necessariamente limitados, contendo em si mesmos a semente de sua contradição.Jesus, ao contrário de nós, jamais cedeu às tentações da teologia, do método, da exposição linear. Não só isso (o que parecerá para alguns ainda mais singular): ele recusava-se a credenciar até mesmo o discipulado da forma como o concebemos, tendo dito mais vezes “vá para a sua casa” do que “venha me seguir”.Onde então se escondia o cerne mais essencial do método e da missão do andarilho de Nazaré? De que forma Jesus tocou gente que
não tinha tempo ou bagagem para saber interpretar o que ele estava dizendo?
A resposta acabo de dar. Jesus tocou gente. Para seguirmos o que penso ser o traço mais singular e essencial do caráter do Deus dos evangelhos é preciso que aprendamos a sensualizar a nossa espiritualidade. É preciso que passemos a procurar a espiritualidade no mundo sensorial, no mundo real, o mundo da experiência e dos sentidos. É preciso que passemos a ver nosso relacionamento com Deus e nossa participação no seu Reino como algo que diz respeito ao que é palpável e material, ao mundo da pele, da carne e do sangue.
Vivemos como cristãos esmagados por uma obsessão espiritualizante. Lemos a Bíblia, mas mantemos os olhos fechados para a revelação a que as narrativas dos evangelhos parecem dar
maior ênfase – que, incrivelmente, inquietantemente. Jesus exercia (e portanto enxergava) a sua espiritualidade na esfera do toque, da visão, da companhia, da presença, do sabor, da voz, dos elementos, da comida, da natureza, do abraço.
A nota central dos evangelhos está em que Deus fez-se, formidavelmente, carne. Submeteu-se voluntariamente ao sangue, ao envelhecimento, ao suor, à bílis, aos gases, à urina, ao sêmen, à saliva,
às fezes. Submeteu-se ao hálito de outros, ao toque de estranhos, ao abraço de amigos, ao açoite de antagonistas.Deus fez-se carne. Em absoluto contraste com ele, tudo que fazemos como cristãos, tudo com que nos ocupamos e rotulamos de espiritualidade, é para disfarçar a carne que somos. Jesus aprendeu a viver na carne e mostrou notável desenvoltura dentro dela; em contraste com ele, sentimos que a carne nos incomoda, nos constrange, nos envergonha.A carne é embaraçosa. Vivermos constantemente sujeitos à doença, à fome, à dor, à solidão, à decrepitude, ao ciclo digestivo, à morte e outras vergonhas inerentes à nossa condição pode produzir em nós uma implacável ojeriza contra a carne. Nosso escape para esse fastio, somos levados comumente a crer, está na espiritualidade convencional – espiritualidade que é forjada para demonizar o corpo e seus embaraços e pregar que Deus só pode ser experimentado nas esferas supostamente superiores da mente, do escape da realidade, dos olhos fechados, da privação dos sentidos.
De fato cremos que o momento espiritual acontece enquanto o órgão está tocando; a pizza que virá depois não é espiritual. Orar antes de dormir é espiritual, levar o lixo para fora não. O côro da igreja é espiritual, o samba que você assobia enquanto lava a louça não. Dar o dízimo é espiritual, oferecer a alguém um chiclete não. Ler a Bíblia para o velho cego é espiritual, dar-lhe banho não. A vida devocional dos namorados é espiritual, seu beijo não.
Jesus, estou crendo, apostaria no contrário em cada um desses casos. Estou cada vez mais convencido, com Jacques Elliul, que a revolução espiritual é mais material, mais palpável em seu caráter do que qualquer outra.
Jesus não ignorava os embaraços da doença, da fome, da dor, da solidão, da decrepitude, da morte, do ciclo digestivo; muitos desses atingiram-no em cheio na própria carne. Ao contrário de nós, no entanto, Jesus não buscava refúgio dessas coisas num mundo dos espíritos à prova de constrangimentos. Ele não caía na tentação da espiritualidade convencional e isso, aparentemente, é o que mais teimamos em não aprender com ele.
Jesus fazia o trajeto precisamente contrário ao nosso, avançando com galhardia em direção à experiência dos sentidos, tendo dedicado a maior parte de sua atividade neste mundo ao esforço de minimizar os constrangimentos produzidos em pessoas de carne pela fome, pela doença, pela dor, pela decrepitude, pela solidão.
No que pode nos parecer escandaloso, Jesus deixava claramente a impressão de que estava tratando primordialmente com corpos, não com espíritos. Ele tinha histórias para contar, verdades a ensinar e revelações espetaculares para fazer, mas seu dia-a-dia e sua agenda permaneciam entranhados no domínio do corpo e da experiência dos sentidos – de pessoas que precisavam de cura, de pessoas que precisavam de comida, de pessoas que precisavam andar, de pessoas que precisavam de sexo, de pessoas que precisavam de visão, de pessoas que precisavam de companhia, de pessoas que precisavam de trabalho, de pessoas que precisavam de dinheiro, de pessoas que não queriam morrer.
O Filho do Homem não apenas recusou o ascetismo de João Batista, ele ensinou da maneira mais espetacular que Deus é encontrado e vivido no reino das pequenas coisas, no domínio vulgar da carne e das sensações. O Deus encarnado era um homem que bebia vinho, que assava peixe, que colhia figos, que tocava leprosos, que cuspia na terra e fazia lodo, que colocava a mão no prato de molho, que pedia água, que deixava uma mulher massagear-lhe os pés, que deixava um homem recostar-se no seu peito, que sentia medo e dor e sangrava e podia morrer.
Nossa satânica fantasia como cristãos é passarmos pelo mundo à margem de todas essas coisas, desencarnados como fantasmas, vivendo momentos de espiritualidade em número sufciente para redimir os constrangimentos que nos impingem o corpo e os sentidos. Não queremos de modo algum enfrentar o terrível embaraço de que somos feitos de carne e osso.
Tentamos a todo custo escapar daquilo que a Bíblia não esconde em página alguma: que a carne é essencialmente animal. Preferiríamos não ter admitir, avançados que somos na comunhão divina e na experiência do Espírito, que não somos menos animais do que uma barata, um lêmure ou uma sucuri. “O Verbo se fez carne” traduz-se por “Deus fez-se animal”; nós, se tivéssemos escolha, apagaríamos por completo a porção corpo/carne/sentidos da nossa experiência. Sentimos que se isso acontecesse estaríamos finalmente livres para desfrutar da espiritualidade plena. Adiamos a nossa espiritualidade definitiva para quando acontecer.
Esta hesitação em abraçar a carne é, naturalmente, antiga na história do impacto da persuasão de Jesus. A carne do Filho do Homem representou grave escândalo tanto para judeus quanto para gregos, as duas grandes facções do mundo atingidas pela boa nova no tempo dos primeiros cristãos.
Para os romanos, devidamente adestrados pelos gregos, o escândalo essencial da boa nova de Jesus não era a divindade ter morrido na cruz a fm de resgatar a alma. Deuses que encarnavam e expiações tendo em vista a redenção do espírito eram lugar-comum nas religiões
de mistério muito antes do cristianismo entrar em cena. O escândalo não era, tampouco, o espírito de Jesus ter sobrevivido gloriosamente à morte. Sócrates, via Platão, já havia se desdobrado para demonstrar por A + B que a alma humana é eterna e impermeável à morte.
O impensável, para gregos e romanos, estava no fato do corpo de Deus ter sido redimido: a notícia de Jesus ter adentrado a glória em forma corpórea, prometendo o mesmo destino aos seus seguidores.
Na visão de mundo greco-romana o espírito era uma chama imortal desgraçadamente presa dentro de um vaso mortal. Para os gregos, o espírito era puro e inefável, o corpo impuro e irredimível; o espírito era bem-intencionado e puxava o homem para o alto, o corpo era corrupto e puxava o homem para baixo; o espírito era por definição indestrutível, e o destino mais honroso a que a carne podia aspirar era a dissolução.
Imbuídos dessa convicção, os atenienses ouviram muito interessados o discurso do Apóstolo no Areópago, até que Paulo mencionou a ressurreição do corpo – ponto em que perceberam que a doutrina daquele sujeito não merecia mais do que zombaria e desprezo.
Aqueles esclarecidos atenienses, mais ou menos como nós, não criam que houvesse no corpo e na carne qualquer coisa com vocação à redenção ou à eternidade. Já para os judeus, que viam a carne como obra de Deus e criam na redenção futura do corpo e da criação, o escândalo estava em ver Deus confinado aos limites da sua própria obra – como um dramaturgo que condescende em descer ao palco, um pintor que rebaixa-se voluntariamente a pincelada. O que era ainda pior: esse homem que sugeria ser a encarnação de Deus repudiava o ascetismo (popularmente associado à espiritualidade) e abraçava o mundo dos sentidos com exuberância, com paixão, com vertiginoso ardor. Atracava-se a gente, consertava corpos, alimentava estômagos, lavava pés, beijava seus amados, tremia de tensão e de exaustão, não recuava diante da mais constrangedora e sensorial manifestação de afeto. Que Deus se rebaixasse às paixões do homem já era bastante ruim; que o homem-Deus se refestelasse na carne – que afirmasse a carne ao invés de negá-la, era afronta intolerável.
Dois mil anos depois, cá estamos nós – nem judeus nem gregos, mas algo infinitamente menos acabado – aspirando petulantemente a seguir os passos do Filho do Homem: o impensável “Deus conosco”, o encarnado, o Deus que assumiu “condição de homem”.
E que fazemos? Com recato estúpido, pecaminoso e contraproducente negamos hoje a carne de Jesus e a nossa. Os mesmos cristãos que recusam-se a admitir a possibilidade de descenderem do macaco não trazem à mente que Deus em Jesus conformou-se, disparatadamente, à condição de primata.
Queremos que as pessoas “conheçam Jesus” através da assimilação intelectual do nosso discurso, jamais pelo intercâmbio de caminhadas e pelo choque custoso entre corpos. Não queremos de modo algum traficar com a carne, porque não queremos que Deus trafegue através dela.
Esquecemos, miseravelmente, que a natureza divina de Jesus não estava escondida na sua carne. Estava manifesta nela.Essa nossa infantil negação da carne nos torna, entre outras
coisas, companhia insuportável para todos ao nosso redor, e ainda para nós mesmos. Vivemos como se a espiritualidade (como se a verdadeira vida!) fosse terreno exclusivo do incorpóreo e do intelectual – da oração, da devocional, da meditação, do discurso, da leitura. Fora raras exceções determinadas por um emocionalismo arbitrário, não conseguimos ver nenhuma espiritualidade num abraço, numa caminhada pela praia, num jogo de cartas, numa escalada, num café, numa churrascada, numa for, num pedaço de pão, na mão de um amigo, numa dor de dente, nas pessoas que estão com você na casa de praia.
Isso enquanto o testemunho do homem - Jesus proclama em altos brados, do alto de sua pedra de escândalo do Novo Testamento, que não há exceções à universal santidade das relações da carne com o universo. Deveríamos andar descalços todo o tempo, pois somos terra santa.Jesus não apenas tolerou a carne. Ele não apenas rebaixou-se à carne e por certo não aboliu: Jesus a redimiu.
Somos constantemente ensinados sobre a importância de morrer e ressuscitar como Jesus, mas – ai de nós – não há quem nos ensine a encarnar.
Para quem vive a cristandade do nosso lado do planeta a salvação é entendida, fundamentalmente, em termos jurídicos. A partir de uma leitura pouco imparcial das cartas do Apóstolo, nossa tradição acabou concluindo que a salvação é uma mudança de status legal, um indulto emitido pelo juiz em favor de quem concorda em dar crédito ao caráter remissório do sacrifício do advogado.Não é assim na metade oriental da cristandade, a igreja chamada de Ortodoxa e que gerou gente notável como Dostoiévski e Tolstói. Nossa igreja e a ortodoxa são gêmeas separadas não muito depois do nascimento, mas que desde a cisão não conseguem entender direito as idéias e o comportamento uma da outra. Por exemplo, ambas concordam que o homem carece de uma salvação que só Jesus pode dar — mas discordam sobre de que Jesus salva o homem, e para quê.
Para os cristãos ortodoxos, a essência da salvação não está na justificação, mas na deificação (grego theosis) — transformação de seres humanos em deuses. Nos documentos da igreja primitiva a deificação não merece menos destaque do que a justificação, mas a theosis como conceito teológico não comparece no pensamento cristão ocidental há mais de mil anos.O evangelho diz que a todos que acolheram sua encarnação Deus “deu o poder de se tornarem flhos de Deus”. Tradicionalmente esse foi entendido como sendo o poder de nos tornarmos participantes da natureza divina. Essa é a lógica da deificação, resumida numa única frase de Irineu: “Se o Verbo tornou-se o homem foi para que homens se tornassem deuses”.
Os ortodoxos e seus antecessores deixam claro, no entanto, que o milagre da deificação não está em tornar o cristão um deus independente e digno, ele mesmo, de adoração. Agostinho raciocina
que, “se somos feitos filhos de Deus, somos da mesma forma feitos deuses”, mas esclarece: “Deus quer fazer de você um deus; não por DEUSES E HOMENS natureza ou nascimento, mas por graça e por adoção”. Atanásio também opina que “somos como Deus por imitação, não por natureza”.
A idéia está em imitar Deus em sua revelação máxima, a pessoa de Jesus. Aqui está o mistério: a deificação diz respeito muito mais a aprendermos a ser gente do que a ser deuses.
João Crisóstomo (349-407), pregador de Antioquia que ajudou a cristalizar o que viria a ser o pensamento dos cristãos ortodoxos sobre a deificação, ensinava que o mistério da redenção está
indelevelmente associado ao mistério da encarnação. Isto é, a salvação diz pelo menos tanto respeito à vida de Cristo quanto à sua morte. A encarnação, para Crisóstomo, não só revelara Deus para a humanidade: revelara também a verdadeira humanidade para a humanidade. Imitar a legitimidade da vida terrena de Jesus é infundir-se do sopro vital de Deus, o regenerador “espírito de Cristo” — em letras tanto maiúsculas quanto minúsculas. O fim da deificação (e, portanto, da salvação) é restaurar no homem a imagem da divindade impressa nele por Deus na criação, imagem que Jesus estampou integralmente. Deus quer que sejamos deuses para que aprendamos finalmente a ser homens.
No pensamento ortodoxo a salvação instila uma mudança real na natureza humana; não se trata — como normalmente cremos aqui no Ocidente — de uma mudança relativa e temporária, a
ser melhor implantada em momento oportuno. Para nós, o homem é salvo da condenação; para os cristãos ortodoxos, é salvo da mediocridade. Para nós o homem é salvo para viver com Deus um dia ; para os ortodoxos, é salvo para viver como Deus hoje.
Nas palavras de Crisóstomo: “Visto que Cristo ascendeu ao céu sua carne tornou-se, como
as primícias, o princípio dos que dormem. Ele abençoou a humanidade inteira através dessa única carne e desse único princípio. Antes, por causa do pecado, nada era mais abjeto do que o homem, enquanto agora nada é mais honrado do que ele. Através do Cristo ressurreto e ascendido o homem vence a corrupção e adquire incorrupção. Vence a morte, porque a morte foi inteiramente abolida e não aparece em lugar algum, enquanto o homem adquire imortalidade e é deificado. Deus e humanidade tornaram-se de fato uma única raça.”
A obsessão forense da igreja ocidental fez com que nos concentrássemos quase que exclusivamente nos méritos da morte de Cristo. O terrível preço dessa ênfase foi que perdemos de vista os méritos de sua vida e sua encarnação. Por deixarmos de considerar o caráter do Jesus dos evangelhos, a teologia ocidental tornou-se eminentemente racionalista, intelectual e escolástica; perdeu contato com as necessidades da vida real e a espiritualidade do homem comum. Perdeu o dom de lavar pés e ensinar lavradores. Ocupou-se em entender a revelação racionalmente e explicá-la com argumentos lógicos a uma audiência sofisticada. Passamos a crer que a salvação é questão de uma aceitação intelectual da verdade, sem relação alguma com a vida real de Deus ou com a nossa.
Perdemos no processo o dom que Jesus veio nos conceder, o de sermos gente: agentes humanizadores num mundo desumano e deuses suplentes num mundo sem Deus. Como sempre acontece, o que nos falta é voltar aos princípios mais fundamentais da humanidade de Jesus – o Deus encarnado que escolheu chamar a si mesmo de Filho do Homem.

Stanford, California 94305, USA.
Paulo Brabo
Campina Grande do Sul
Março de 2007www.baciadasalmas.

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