Por várias vezes temos nos referido ao jeito carinhoso e atencioso com o qual Jesus Cristo acolhia as crianças. Nesta reflexão falaremos de um segmento infantil com características especiais. Não vou falar de crianças ex-peciais – fora da espécie –, mas sim especiais – preciosas, diferentes, encantadoras.
Sempre fez parte da missão de Jesus incluir em seu ambiente pessoas diferentes, em geral excluídas pela sociedade de seus dias. Ele aproximou-se de leprosos, acolheu as crianças, deu aos doentes uma atenção diferenciada. Precisamos seguir o exemplo de Jesus Cristo, já que a igreja é continuadora da sua missão.
Tenho sido muito abençoado em momentos de convivência com esses personagens fora do comum. Éric é um sobrinho querido que nos trouxe muitas alegrias. Ele tem um cromossomo 21, causador de uma diferenciação peculiar dos demais seres humanos, denominada Síndrome de Down. Minha irmã tem Éric como uma dádiva divina, uma espécie de presença de Deus no seio da família.
A Júlia é uma preciosidade em nossa comunidade. Ela participa dos nossos momentos de louvor e oração com tal encantamento que, em geral, nos cativa a chegarmos mais ávidos à ambiência gerada por suas expressões e gestos de louvor e celebração pela vida. Na década de 80 conheci Zezinho. Ele está na lista dos meus amigos mais especiais. Zezinho não falava, mas na tentativa de cantar com um grupo de jovens de nossa igreja, além de outras participações com os idosos de nossa comunidade, ele aprendeu a falar. Zezinho tem uma habilidade extraordinária para a música e esta habilidade foi sendo descoberta pelo acolhimento e chances que a igreja lhe proporcionou.
Conheço um outro Éric, além do meu sobrinho. Ele é filho de uma amiga muito querida. Leia a seguir o depoimento da sua mãe, Rose:
“Nos acostumamos com ambientes que excluem ou observam a criança como objeto de admiração e alívio ‘porque os meu filhos são saudáveis’. É raro encontrar um ambiente acolhedor, não tanto pelo preconceito que advém do desconhecimento, mas pela falta de disposição para conviver com o outro.
Achávamos que isso não aconteceria no ambiente religioso, já que espiritualidade nos remete a aprender a acolher. Puro engano. Por anos, deixamos de freqüentar uma igreja por não nos sentirmos aceitos. O jarro, o púlpito, o ritual, o show, a estética... é sempre mais importante que as pessoas.
Meu filho é portador de sequela de toxoplasmose; possui um cérebro pequeno (microcefalia), não é regido pelas conveniências sociais, mas sabe se comunicar sem falar, amar sem cobrar, tocar músicas em instrumentos de percussão sem comercializar, sentir sem explicar, enxugar nossas lágrimas no momento de tristeza (o que enche o nosso coração de gratidão e alegria); sabe receber e ser hospitaleiro sem imposições, orar sem barganhar, louvar a Deus e adorá-lo espontaneamente. Enfim, sabe ser gente.
Hoje estamos em uma igreja acolhedora, que o percebe como pessoa. Que permite que ele participe de todas as celebrações, batismo, ceia e ministério. A comunidade tem nos ensinado a paciência, a contemplação do diferente percebendo a sua beleza; tem nos ensinado o amor incondicional. Eu concordo, sem falsa modéstia: Meu filho é especial mesmo! A inadequação não vem das pessoas diferentes, mas sim de nós, os ‘normais’, que não sabemos como conviver com o outro!”
Animo a sua igreja e a sua comunidade a receberem com mais alegria e contemplação os meninos e meninas especiais.
Escrito por, PR. CARLOS QUEIROZ.