quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Porque Jesus não anda com os fariseus

Lucas, no capítulo 15 de seu livro, registra um diálogo entre Jesus e os fariseus, que reclamavam do fato de Jesus receber e comer com publicanos.
A queixa deles fazia sentido: os publicanos eram gente que havia traído Israel e se tornado cobrador de impostos para os romanos. Eram como os que, na segunda guerra mundial, colaboraram com os nazistas que haviam invadido o seu próprio país.
Para os fariseus, o que faria sentido seria Jesus andar com eles, afinal, entre eles e Jesus, havia mais concordância doutrinária do que entre Jesus e qualquer outro partido judaico.
Jesus respondeu-lhes contando três parábolas: a ovelha perdida, a moeda perdida e o filho perdido.
Parábola é uma “estória” com fundo moral, para destacar um ensino.
Nessas três parábolas Jesus explica aos fariseus porque não andava com eles.
Na parábola da ovelha perdida, Jesus pergunta: Que pastor, tendo cem ovelhas, ao perder uma, não deixa no DESERTO as noventa e nove e sai à procura da perdida, e, quando a encontra, vai direto para casa para festejar com os amigos?
A resposta para essa pergunta é: nenhum pastor faria isso, pois perderia as noventa e nove, e tudo o que teria seria a ovelha perdida, se a encontrasse. A menos que estivesse abandonando as noventa e nove.
Era isso que Jesus estava a fazer, abandonando as noventa e nove. As noventa e nove ovelhas representavam os fariseus.
Jesus explica tê-los abandonado porque há mais alegria por um pecador arrependido, do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento.
Por que Deus não ficaria alegre com noventa e nove justos que não precisam de arrependimento, se, como disse o salmista: Deus conhece o caminho dos justos? (Sl 1.6)
Porque justos são os que sempre se arrependem e não os que se julgam não necessitados de arrependimento.
Os fariseus eram assim, se julgavam justos que não precisavam de arrependimento, mas Jesus os denunciava por serem justos aos seus próprios olhos, mas não justificados por Deus (Lc 18.11-14)
Na parábola da moeda perdida, Jesus diz que ele é como a mulher que, tendo perdido uma dracma (salário de um dia de trabalho), revira toda a casa até encontrá-la, e, ao encontrá-la, chama vizinhas e amigas e faz uma festa.
A casa é Israel, e o que é revirado é tudo o que os fariseus, por conta própria, chamaram de sagrado, e que só servia para passar uma imagem falsa de Deus, afastando os homens da possibilidade do arrependimento. A dracma representava os publicanos.
Na parábola do filho perdido, Jesus concorda com os fariseus quanto aos publicanos: deixa claro que são pessoas que jogaram para o ar tudo o que tinham junto ao Pai, para viver dissolutamente, seduzidos pelos romanos, que, por fim, apenas lhes estavam oferecendo viver numa pocilga.
Mas o Pai jamais desistiu dos publicanos, mantendo-lhes aberta a porta do arrependimento.
Entretanto, os fariseus, a exemplo do irmão mais velho, não o admitiam. Entendiam-se como juízes de seus irmãos, não dando crédito ao arrependimento dos mesmos, até por julgá-los incapazes de tal ato.
Os fariseus, como o irmão mais velho, não conheciam, de fato, o Pai, e não o amavam; pior, entendiam que o Pai tinha uma dívida para com eles, por causa da fidelidade com que o serviam sem nada receber em troca. E, em não amando o Pai, não amavam a ninguém. E quem não ama não considera a possibilidade do arrependimento do outro.
Jesus, em muitos casos, podia até ter o mesmo enunciado que os fariseus, mas não tinha o mesmo coração.
E... Como disse o poeta e compositor Claúdio Manhães: “Diferente é o coração, a diferença é o coração!”
A boa doutrina tem de, necessariamente, gerar um bom coração, senão será, mesmo que correta, um enunciado vazio, por não ter frutificado no coração de quem a prega.

Autor, ARIOVALDO RAMOS.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

CONVERTEI-VOS

Porque o Reino dos Céus está Próximo

Segundo Grudem conversão é: “a nossa resposta espontânea ao chamado do evangelho, pela qual sinceramente nos arrependemos dos nossos pecados e colocamos a confiança em Cristo para receber a salvação”. Ele continua dizendo que conversão é voltar-se do pecado, da qual chamamos de arrependimento e o voltar-se para Cristo, isso é o que chamamos de fé. Em suma podemos dizer que conversão tem haver com a fé e o arrependimento. É estarmos caminhando em direção a um lugar, mas em certo momento darmos uma volta, e caminharmos em direção oposta.
Essa é uma definição famosa sobre conversão. Nesses dias refletiam sobre o aviso cheio de vigor de João Batista: “Convertei-vos, porque o reino do céu está próximo”. Claramente uma afirmação utilizada por mim durante muitos anos para convencer todos aqueles que não eram cristãos, na minha mente isso significava “crente”, a aceitarem Jesus. Creio que eu não era o único a utilizar-se desse recurso. Entretanto, percebi que estava equivocado, muito mais do que um pedido de conversão, João Batista estava fazendo uma denúncia contra um povo que conhecia muito de Deus, mas que tinha suas atitudes marcadas pela injustiça.
Quem precisava realmente se converter eram os sacerdotes de sua época, todos aqueles que se utilizavam do nome de Deus para legitimar suas ações marcadas pela injustiça. Era necessário converter, porque conhecer de Deus não qualificava ninguém como participante do seu Reino. Thiago já dizia: “Crês tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem”.
A conversão vem marcada por atitudes que demonstram que a minha fé é verdadeira. É produzir frutos do arrependimento, saber que não adiante falar de amor, de acolhimento, de comprometimento, de unidade, quando suas atitudes revelam brigas, intrigas, opressão e ausência do amor. Conversão é seguir a Jesus, o acompanhando de todo o coração e constantemente, compartilhando sua vida e destino ao custo de todas as alianças e compromissos, ligando-se a ele, engajando-se em sua obra, e assim, mostrando que estão qualificados para serem seus discípulos... nesse sentido essencial, é um dom de Deus, é o estar apto” (Karl Barth).
Diante disso, aprendo que para minha conversão ser verdadeira, é preciso que existam os frutos do arrependimento, e esses frutos nada mais são do que a minha fé, nascida do meu relacionamento com Deus, com o meu próximo e o com o meu distante. É minha fé tornando-se prática, quando ajudo a criar na terra seca um jardim, como Deus criou no Éden, quando eu visto a nudez como Deus vestiu Adão, quando visito o doente, como Deus visitou Abraão, quando conforto o triste, como Deus confortou Isaque, quando enterro o morto, como Deus enterrou Moisés.
Se a nossa fé não trouxer a justiça de Deus em nossos atos, não pertencemos ao Reino de Deus e então: “o machado já está posto, e árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo”.

Autor, RÉGIS PEREIRA.